
Perturbação da Hiperactividade e Défice de Atenção
A rotulagem “criança hiperativa” é, à partida, algo que assusta tanto pais como professores.
Aos olhos da sociedade, estas crianças são tidas como mal comportadas, irrequietas, refilonas, impulsivas, preguiçosas, birrentas, irresponsáveis, brutas, desajustadas, más, e até insuportáveis...
Importa, no entanto, caracterizar e contextualizar corretamente esta perturbação, para distinguir as dificuldades reais a ela inerentes, daquelas que surgem geralmente em consequência de outros factores.
A Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) é actualmente uma das mais estudadas e controversas perturbações do desenvolvimento na infância. Mais frequente nos rapazes, apresenta características distintas consoante o género e a idade.
Caracteriza-se por um desenvolvimento inapropriado dos mecanismos cerebrais que regulam os processos de atenção, da atividade motora e de reflexão.
A PHDA é, de facto, resultado de uma disfunção neurológica, e não apenas o resultado de más práticas parentais e/ou escolares, ou uma mera criação da sociedade. Enganam-se, pois, aqueles que julgam que a solução para o problema se encontra numas “palmadas pedagógicas” administradas no momento certo!
A PHDA ocorre frequentemente associada a outras patologias, sendo mais comum a Perturbação de Oposição e Desafio, Ansiedade e Depressão, Dependência de Substâncias e Dificuldades de Aprendizagem Específicas.
Diagnosticada com frequência em idades pré-escolar, calcula-se que possa afectar 4 a 7% das crianças e jovens em idade escolar em Portugal, prolongando-se frequentemente pela idade adulta com contornos e características diferentes.
É geralmente no ensino primário que se tornam manifestas as maiores dificuldades da criança com PHDA. É o caderno e trabalhos que nunca estão organizados, é a dificuldade em permanecer sentada e focada na instrução do professor, é a tarefa que nunca chega ao fim desistindo à primeira dificuldade, é o lápis que cai vezes sem conta, é a cadeira que nunca pára quieta porque é preciso apanhar o lápis (e de seguida o todo o material que entretanto caiu porque se encontrava espalhado sobre a mesa), é a necessidade de ir à casa-de-banho de meia em meia hora, é baixa resistência à frustração, é a incidência de comportamentos desagradáveis como mentir, roubar, culpar os outros e dizer palavrões, é o interesse pelo mais pequeno ruído vindo do exterior, é o cochichar constante, é a resposta intempestiva quando a instrução ainda está a meio, é o material que se perde vezes sem conta, é o pensamento que vagueia, é a matéria que tarda em ser passada do quadro, etc., etc., etc.
Em casa, permanecem todas as dificuldades que vieram da escola, às quais se juntam, de forma explosiva, o cansaço e a já pouca paciência dos pais no final de um dia de trabalho. São os trabalhos de casa que são interrompidos pelo menos dez vezes, é dificuldade em ficar sentada à hora da refeição, é a birra para entrar no banho (que depois se repete em tempo e em esforço na hora de sair), é o deitar que tem que esperar sempre por mais um desenho-animado, etc., etc., etc.
Muito embora o comportamento agitado seja geralmente o motivo de preocupação de quem lida diretamente com estas crianças (fase visível), as suas reais dificuldades centram-se ao nível da auto-regulação e da manutenção da atenção.
As crianças com PHDA são, de facto, significativamente diferentes das outras no que diz respeito ao nível da atenção, da actividade motora e do controlo dos impulsos. Estas características vão ser responsáveis por uma desadaptação comportamental, comprometendo seriamente a sua vida pessoal, social, familiar e escolar.
Desta forma, podemos perceber como estas crianças representam um autêntico desafio para a Família, a Escola, e para si próprias. Não é apenas uma criança “desinquieta”; a PHDA está associada ao insucesso escolar, acidentes, depressão, uso de substâncias ilícitas e muito sofrimento.
A identificação precoce, bem como a intervenção contextualizada, podem minimizar ou prevenir uma eventual evolução desfavorável da PHDA.
É possível ensinar o indivíduo a saber lidar com a PHDA, mantendo o quadro sintomatológico dentro de limites que não se revelem graves para o próprio e para aqueles que o rodeiam.
Para tal, existem múltiplas possibilidades de intervenção, cujos efeitos parecem ser potencializados quando conjugadas diversas metodologias em função de um mesmo objectivo, numa resposta global e integrada às necessidades que estes indivíduos apresentam no seu dia-a-dia.
A intervenção em Psicomotricidade estende-se, numa perspectiva global e multidisciplinar, à Família e à Escola, de forma a permitir a implementação eficiente de estratégias e práticas pedagógico-terapêuticas que visam potencializar as capacidades destas criança nos diferentes contextos.