Depressão Pós-Parto
Apesar do nascimento de uma criança ser um acontecimento normalmente gerador de grande felicidade, para muitos casais é vivido de forma angustiante desencadeando várias perturbações emocionais, entre elas a Depressão Pós-Parto. A depressão materna, para além de ser uma perturbação com frequência elevada no período pós – parto (afectando 10 a 20% das parturientes), vai interferir significativamente no funcionamento adequado da mãe face ao mundo que a rodeia, e é claro face ao seu bebé. Episódios de depressão durante o puerpério mostram uma série de características tais como: irritabilidade, ansiedade, sentimento de inadequação e de incapacidade (sobretudo no modo como lidar com o bebé), sentimento de culpa, labilidade do humor, entre outras. Estes sintomas, exercem um profundo efeito nas relações interpessoais, estendendo-se prioritariamente às relações que a mãe estabelece com o seu bebé. A depressão pós – parto leva, por isso, a um insucesso no estabelecimento da preocupação materna primária na medida em que focaliza as preocupações da mãe sobre si própria, e limita as suas possibilidades de investimento exterior.
Durante o 1º ano após o parto, as mães constituem uma larga porção do meio social e afectivo que rodeia os seus bebés, e mediatizam as suas experiências com o mundo externo pois este, só se pode organizar na sua complexidade a partir de um eixo de referência que, para o bebé é a sua mãe. A qualidade dos cuidados maternos, que um bebé recebe, e a relação com a mãe que vai actuar como organizador, facultando estimulação adequada, e investindo afectivamente no seu bebé, são portanto de importância vital para o seu desenvolvimento e saúde mental futura. Mas a continuidade dos cuidados maternos, ligados à fiabilidade, à previsibilidade e flexibilidade da mãe na escuta e na resposta às necessidades do bebé, são quebrados quando a mãe está deprimida. Mães deprimidas têm percepções desvalorizadas de si próprias enquanto mulheres e também enquanto mães, e estas percepções reflectem até certo ponto a sua inadequação no desempenho do papel maternal. A mãe e o seu bebé compartilham mais frequentemente os seus estados afectivos negativos (diminuição das interacções pelo sorriso, pelo olhar, pela mímica facial…) e estes padrões interactivos mantêm-se, mesmo quando o bebé interage com estranhos não-deprimidos. Com a dependência mútua entre mãe-bébé, que existe neste tipo de relações, são habitualmente crianças que revelam muitas dificuldades em interagir com os outros.
Relativamente aos padrões interactivos surgem quer padrões sub-envolvidos- isto é, mães distantes, pouco expressivas, ausentes com padrões de estimulação, em que existe um menor envolvimento emocional, menor número de respostas positivas, menor estimulação global, quer padrões sobre-envolvidos- isto é, mães que estimulam excessivamente os seus bebés, fazendo-o de forma intrusiva, sem reconhecer os ritmos e necessidades do bebé, levando à desorganização do seu comportamento.
As mães deprimidas, tendem a ser mais permissivas e condescendentes não só por se sentirem frágeis e inseguras devido à depressão, sendo-lhes difícil impor a sua vontade, mas também, porque esta é uma forma de compensar as necessidades de atenção e afecto que elas inicialmente não se sentiram capazes de dar.
No contexto de uma depressão pós – parto, situação que tem uma grande incidência, e pelos sintomas que lhe são próprios, a qualidade das interacções mãe – bebé vai então ser alterada, estando a mãe pouco disponível emocionalmente e pouco atenta às necessidades do seu bebé, não lhe proporcionando um clima favorável para a expressão do seu potencial de desenvolvimento. Os comportamentos e sentimentos da mãe deprimida na sua relação com o bebé são afectados pelo seu estado de humor, que determina a relação que esta estabelece com o bebé.