O NÃO a ESPERA e o TÉDIO como Aliados da Educação dos nossos Filhos
Educar uma criança é na sua essência um caminho de Amor, que nos pede alguns sacrifícios, estabelecimento de limites e um olhar mais à frente de prespectiva de futuro.
Os limites são estruturantes, servem para os nossos filhos compreenderem que nem sempre vão conseguir ter ou fazer o que desejam. Isso, fá-los desenvolver a tolerância à frustração, capacidade de grande importância para que no futuro, lidem naturalmente com os Nãos da vida e consigam ultrapassar os obstáculos e desafios que surgem diáriamente.
Nas últimas gerações, assistimos a um crescente poder das crianças nas famílias. Este poder advém da dificuldade e medo que os país têm em contrariar os filhos. Seja porque lhes é difícil lidar com birras; porque estão pouco tempo com as crianças e sentem-se culpados pela sua falta de disponibilidade, ou porque temem que os filhos deixem de gostar deles. Contudo, a permissividade apenas cria mais desorientação na criança. Ela desenvolve em si a crença que tudo pode. Esta crença faz dela uma criança tirana, centrada apenas nas suas necessidades e caprichos, sem capacidade para respeitar os outros e as suas vontades, com dificuldade em reflectir sobre as suas ações e consequências das mesmas, e com um baixo nível de resistência à frustração.
O que a educação excessivamente permissiva faz, é retirar à criança a oportunidade de crescer com consciência de que é capaz de gerir obstáculos e desafios, o que a conduz a um caminho de grandes dificuldades na vida adulta. É por isto que é muito importante que as crianças lidem com o Não desde cedo, que percebam que os seus impulsos não são satisfeitos só porque querem. É assim que elas vão desenvolvendo progressivamente a sua capacidades de resiliência, de resistência à frustração.
As crianças vão decepcionar-se muitas vezes, e é bom que o experimentem na infância com os pais a legendar as situações. É assim que aprendem a adquirir ferramentas, como a perseverança, a tolerância, a paciência, a empatia e a flexibilidade, que lhes trazem a estrutura e segurança.
Por vezes ao dizer Não, os pais sentem-se culpados. Pensam que até podiam dar o que a criança pede, ou sentem que ela merece, ou simples porque é difícil vê-la sofrer com a frustração. Nestas alturas é importante pensar no que é melhor para o meu filho a médio e longo prazo. O meu filho pode ficar muito triste e zangado naquela hora, mas o meu Não vai ajudá-lo a regular os seus impulsos? Vai fazer com que ele aprenda a esperar? O Não é de facto muito desagradável de ouvir, mas também pode deixar a criança menos angustiada perante um excesso de estimulos e sensações ou em momentos de escolha que ela ainda não consegue fazer.
A verdade é que as crianças se sentem seguras quando os pais as contrariam. Elas, apesar de reclamarem, percebem que o seu Não é protetor. Esse Não é visto como um limite e os limites são organizadores. É como se estivéssemos a dizer-lhes: "Entre esta linha e aquela estás seguro, é um espaço que considero bom para ti. A partir daí podes correr perigo, não é o melhor para ti". É função delas testar o lado de fora da "linha", é por isso que é tão importante que ela exista. Só se quebram regras e limites se eles existirem e forem claros, e a cada quebra devem ser relembrados.
Neste processo de educar, tão importante como o Não é o treino da Espera. Ensinar os filhos a Esperar e persistir, é extremamente importante para um desenvolvimento feliz e saudável.
Vivemos num tempo em que a tecnologia permite que tenhamos resposta às nossas necessidades de forma quase imediata. As crianças já não precisam Esperar pelo seu programa de TV preferido; se estão a jantar com a família e se sentem entediados, surge-lhes um tablet ou telemóvel para os entreter; nas mesmas refeições são os primeiros a serem servidos; entre muitas outras situações do quotidiano que não previligiam a Espera.
Para ensinar os nossos filhos a Esperar, precisamos estar atentos e fazer esse exercício diáriamente. Podemos por exemplo levá-los connosco ao supermercado, combinar antecipadamente não levar nada especificamente para eles e envolvê-los na procura de produtos que sejam mesmo necessários comprar; em casa, ensinar a esperar por todos estarem servidos ao almoço/jantar e só depois começarem a comer; nas esperas por consultas médicas, aproveitar para conversar com eles ou jogar a alguma coisa, em vez de lhe darmos telemóveis ou tablets para brincarem sozinhos.
As crianças que aprendem a Esperar, tendem a respeitar mais os outros, tomam consciência que não são o centro do universo, crescem menos focadas apenas nas suas necessidades. O saber Esperar também baixa a ansiedade das crianças, dando-lhes maior capacidade para ouvir e conversar sobre qualquer assunto, o que lhes permite uma maior concentração para aprender.
Muitos pais desejam que os filhos tenham o seu tempo todo ocupado com atividades organizadas. Isso tranquiliza-os, porque dessa forma os filhos estão ocupados com coisas úteis. Essas atividades são importantes, mas não devem ocupar demasiado tempo. Momentos diários sem nada organizado, são excelentes para as crianças, elas precisam saber lidar com esse tempo. Experimentar o Tédio é a melhor forma de aguçar a criatividade, de proporcionar momentos de descanso e de encontro consigo mesmo.
Quando uma criança "Não tem nada para fazer" é quando começa a usar a sua imaginação e criatividade para criar algo novo. Permite-lhe pensar sozinha sobre coisas possiveis de desenvolver. No fim, podem surgir sensações de grande satisfação e prazer pelo facto de constatar que é capaz de fazer e criar muito mais do que pensava.
O Não, a Espera e oTédio são grandes aliados da Educação. Enquanto pais, devemos procurar o equilíbrio, estando sempre atentos às reações e atitudes dos nossos filhos desde pequenos, para que a tarefa não se torne mais difícil lá à frente.