Os sintomas da Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA) apresentam algumas diferenças entre rapazes e raparigas. Essas diferenças dificultam a sinalização, fazendo com que muitas raparigas cresçam, sem que nunca tenha havido um diagnóstico e tratamento adequado, continuando a lutar sozinhas para se ajustarem ao que lhes é socialmente exigido.
Nas raparigas os sintomas são menos óbvios. A maioria com PHDA encontra-se no subtipo predominantemente desatento, o que torna mais difícil o seu reconhecimento, uma vez que a desatenção é menos percetível. Mesmo quando as raparigas apresentam sintomas de hiperatividade/impulsividade, estes comportamentos podem não ser reconhecidos como PHDA. Ela pode ser vista como uma criança carismática, mas também como mandona, opinativa, temperamental e difícil. Ela pode ser hiper-conversadora, hiper-social e hiper-reativa.
Na sala de aula, ela pode ser vista como adequada ou até mesmo como uma aluna exemplar, porque não perturba. Apesar dessa aparência externa, internamente ela é ansiosa, por vezes deixa de ouvir ou não compreende as informações importantes, sofrendo com a sua desorganização e o seu baixo rendimento. Além disso, ela pode parecer desinteressada da escola ou dos seus pares. Pode ter sucesso académico, mas isso deve-se a um elevado esforço e dispêndio de energia. Pode esforçar-se muito em casa, na escola, com os amigos, e sentir uma enorme sensação de confusão e vergonha por se considerar incapaz de gerir de forma organizada a sua vida diária.
As raparigas com PHDA tendem a interiorizar os seus sentimentos e as experiências negativas, mostrando menos sintomas externos “visíveis” da PHDA. As raparigas com PHDA são muitas vezes mais propensas à auto-crítica, à falta de confiança e à baixa auto-estima, apresentando frequentemente níveis elevados de ansiedade e depressão.
Alguns sinais de alerta de PHDA em raparigas:
– Demoram muito tempo a fazer os TPC. Distraem-se na internet, na TV ou a trocar mensagens e acabam por ficar acordadas até muito tarde para finalizar as tarefas.
– Embora pareçam estudar afincadamente, os resultados escolares aparecem abaixo do esperado
– Têm fraca compreensão de leitura. Sentem dificuldade em fazer ligações entre as ideias apresentadas num texto. Queixam-se de falta de detalhes nas instruções dos testes ou fichas.
– Podem ter problemas com os pares, tendo em conta que sentem dificuldade em ler os sinais do outro e em seguir conversas.
– Esquecem-se frequentemente de levar ou trazer alguma coisa (por exemplo, o equipamento desportivo, casacos, livros, etc).
– Mexem constantemente nas suas coisas – telefone, chaves, canetas – e ao mesmo tempo, falam muito.
– Têm ótimas ideias e atacam-nas com entusiasmo, mas dificilmente as levam até ao fim.
– Atrasam-se constantemente. Têm dificuldade em cumprir horários.
– Canalizam a hiperatividade para múltiplas atividades extracurriculares.
– Parecem não aprender com as consequências de certas decisões menos acertadas.
– Apresentam oscilações de humor significativas. São muito suscetíveis à crítica e até a pequenos comentários.
É importante que a família e a escola tenham um olhar atento sobre as crianças, não ignorando principalmente os sinais de sofrimento. É comum recorrer-se à crítica, a frases como: “És uma cabeça no ar”; “Não aprendes com os erros”; “Nunca terminas as tarefas sozinha”. Estes comentários, para além de não contribuírem para uma melhoria do desempenho, alimentam a crença da criança de que é preguiçosa, pouco inteligente, pouco esforçada, que nunca é suficientemente boa.
Família e escola devem conversar, e juntas tentar identificar sinais de alerta, pedir ajuda especializada o mais precocemente possível, e em equipa intervir de forma a minimizar o sofrimento das crianças, assim como ajudá-las a encontrar estratégias para gerir as suas dificuldades.